Um
parto diferente, uma mãe bem humorada, clima leve e alegre. Risos e emoções! Quanta
poesia para receber Luiza!
Relato
da Carol:
COMEÇANDO PELO MIGUEL
A
história do nascimento da Luiza se inicia bem antes do dia do parto.
Sempre
tive desejo por um parto natural, mas só fui entender como funciona todo o
sistema e todas
as dificuldades quando engravidei do meu primeiro filho em 2012. Fiz o
pré-natal com um
médico cesarista, percebi que ele não me respeitaria na hora do parto, mudei de
médico com 36
semanas e lutei para proporcionar ao meu filho um nascimento que o respeitasse. Porém,
com 41 semanas e 2 dias, sem nenhum sinal de TP, optei pela cesariana – uma cesariana
eletiva, que ia contra tudo o que eu acreditava. Sim, me arrependi.
GRÁVIDA DA LUIZA
Quando
Miguel tinha 9 meses, descobri que estava grávida da Luiza. As marcas do
nascimento do
Miguel ainda estavam recentes e doloridas, mas decidi que lutaria por respeitar
essa outra criança
mesmo com uma cesariana tão recente. Para isso tomei algumas providências: A primeira
delas foi conversar com meu marido – só seguiria a diante se tivesse total
apoio dele. Outra
providência foi contratar uma doula – a Kelly foi fundamental para eu elaborar
melhor o nascimento
do Miguel e me preparar para a chegada da Luiza. Sem ela não teria conseguido.
E por
último, não divulgamos a idade gestacional correta – na minha primeira gravidez
a pressão social
foi muito grande, já que a gravidez ultrapassou as 40 semanas, e eu não queria
lidar com isso
novamente. A DPP era dia 04 de setembro, nós falávamos que nosso bebê nasceria
no final
de setembro, início de outubro! #MentirinhaDoBem
SERÁ QUE É TRABALHO DE PARTO ?
Quando
estava com 39 semanas e 6 dias comecei a sentir umas dores bem fraquinhas, bem parecida
com cólica de menstruação. Meu marido estava viajando a trabalho e eu não falei nada
para ninguém pois tinha medo de ser alarme falso. Quando foi mais ou menos 15h
falei com a
minha médica:
Contei:
Em um intervalo de 1 hora senti essas cólicas 3 vezes, mas com intervalos bem irregulares.
Doutora Silvia me disse que era um sinal, mas eu poderia ficar dias sentindo
essas dores. Relaxei e fiz tudo o que tinha que fazer – fui para o estágio,
peguei meu filho e deixei na casa da minha mãe, fui no supermercado e mais
tarde fui para casa de alguns colegas fazer alguns trabalhos da faculdade. Enquanto
fazia os trabalhos senti uma dor mais forte. Olhei no relógio, era pontualmente
22h.
Continuei
fazendo minhas atividades, senti outra dor: 22h10m. Mais tarde, outra dor, 22h20m...
Agora os intervalos estavam regulares. Disse para meus amigos que iria embora porque
já estava ficando tarde.
Como
meu filho estava na casa da minha mãe, resolvi dormir lá. Cheguei lá, todos
estavam dormindo.
Jantei, fui tomar um banho e percebi que a água quente aliviava muito as dores
das contrações.
Fiquei horas e horas em baixo do chuveiro. Quando era mais ou menos 3h da manhã,
decidi sair do chuveiro e tentar dormir um pouco... Nesse momento as contrações estavam
de 5 em 5 minutos. Porém, deitada e sem o alívio da água quente, as dores
ficaram muito
mais fortes.
LIDANDO COM AS CONTRAÇÕES - MEDITAÇÃO POR POESIA
Até
então tinha dúvidas se estava realmente em Trabalho de Parto ou não. Eu não
queria falar para
ninguém que estava sentindo contrações e depois ser um alarme falso. Tinha medo
de pedir
para meu marido voltar para o Uberlândia e depois não ser nada... Então fiquei
um bom tempo
pensando no que fazer! Deitada na cama e sem o alívio da água quente, as dores estavam
ficando cada vez mais intensas e os intervalos iam diminuindo. Decidi abrir o
jogo!
Falei
com meu marido e combinamos que assim que o dia amanhecesse, ele pegaria o primeiro
voo de volta para casa. Falei com a minha mãe que estava sentindo contrações e
que ficaria
em baixo do chuveiro, pois a água quente me aliviava. Voltei para debaixo do
chuveiro e me entreguei às contrações. Sentia elas virem e elas irem embora.
Cada vez que elas vinham, cantava uma música que fez com que eu escolhesse o nome da
minha filha – “Luiza” de Tom Jobim. E a música me fazia entender as contrações!
“Rua
Espada
Nua
Boia no
céu imensa e amarela
Tão
redonda lua
Como
flutua
Vem
navegando azul do firmamento
E no
silencio lento
Um
trovador, cheio de estrelas
Escuta
agora a canção que eu fiz
Pra te
esquecer Luiza
Eu sou
apenas um pobre amador
Apaixonado
Um
aprendiz do teu amor
Acorda
amor”
Esse
trecho era o tempo exato da contração! Quando eu cantava a palavra “amor” era o
exato momento
que a contração acabava. A palavra “trovador” era o momento em que a dor estava mais
forte. Depois de “trovador” a dor começava a aliviar! Enquanto cantava pensava
na minha
filha que estava chegando e o quanto eu era “aprendiz de todo aquele amor!”
O dia
amanheceu e quando foi 06h30 sai do chuveiro para arrumar meu filho e leva-lo a escola.
Ele acordou tão alegre e serelepe! Parecia que sabia que a irmã dele estava
chegando! Aquele
sorriso dele me deu uma força tão grande e a certeza de que a Luiza nasceria
naqueledia.
Arrumei ele mas vi que não conseguiria dirigir com contrações com espaços tão
curtos (claro!).
Meu pai o levou para escola e minha mãe foi trabalhar.
Quando
todos saíram, a bolsa estourou e o tampão mucoso saiu! Tudo de uma vez! Depois que a
bolsa estourou, eu acho que o negócio começou de verdade! Nem sei se tinha
intervalo entre
as contrações! Mandei uma mensagem para a Silvia e para a Kelly: “Saiu um
líquido, saiu sangue
e tá doendo!”
HORA DE IR PARA O HOSPITAL
A Kelly
foi para a casa dos meus pais me encontrar. Chegando lá ela achou que já estava
na hora de
irmos para o hospital. Silvia nos encontraria lá. As coisas de levar para a
maternidade estavam
na minha casa. Meu pai foi lá buscar tudo e a Kelly me levou para o hospital.
A
chegada no hospital foi tranquila. A Silvia ajudou na documentação. Fomos para
o quarto. Era
mais ou menos 10 horas da manhã. Já no
quarto, voltei para debaixo do chuveiro. Enquanto isso, meu pai e a Kelly
arrumavam a piscina.
Não sei quantos centímetros de dilatação eu estava, não sei de quanto em quanto tempo
vinham as contrações, não sei quanto tempo elas duravam. Me entreguei a elas.
Senti-as. Vi o quanto estava em boas mãos e como faz diferença uma equipe
humanizada. Silvia me respeitava
em todos os momentos e a Kelly cuidava de mim em tudo - desde a temperatura da água
até colocar comida na minha boca! Mais ou menos meio dia minha mãe chegou e com ela eu
tive mais um apoio.
MARIDO FINALMENTE CHEGA DE VIAGEM!!!
Mais ou
menos 13h meu marido chegou. Até então, eu estava vivendo as contrações, mas não queria
que a Luiza nascesse sem ele estar lá. Só depois que ele chegou que eu sinto
que eu comecei
a querer que ela viesse. É como se de uma forma ou outra eu estivesse
“segurando”ela
ainda... ou tentando retardar o nascimento dela.
Eu
revezava entre chuveiro, piscina, e a única posição em que eu me senti
confortável – ficando
em quatro apoios. Porém, quando foi dando umas 15h eu já estava ficando
cansada. Comecei
a sentir que as coisas não estavam evoluindo. Comecei a desanimar. Estava
cansada de uma
contração atrás da outra. Não queria sentir a próxima contração. Queria deitar
um pouquinho,
dormir. Pensei em pedir a anestesia, mas até que o anestesista chegasse e aplicasse
a anestesia e até ela começar a fazer efeito, eu já teria sentido muitas
contrações! E se eu
aguentasse a próxima, aguentaria muitas outras!
NÃO ESTAVA EVOLUINDO
Nessa
hora conversei com a Kelly e com a Silvia e disse que estava desanimando, que
estava sentindo
que as coisas não estavam evoluindo. A Kelly sugeriu que eu caminhasse um pouco pelo
hospital. Quando eu abri a porta do quarto, dei de cara com uns 5 funcionários
do hospital
(não sei a função deles, todos estavam vestidos de branco) todos na porta do
quarto (como
se estivessem escutando atrás da porta) com os olhos arregalados! Quando me
deparei com
essa cena, voltei pra trás correndo! Não queria de jeito nenhum ter que lidar
com aqueles olhares.
“Não vou sair desse quarto de jeito nenhum! Preciso de vocês perto de mim!”
MÉDICA HUMANIZADA É ASSIM
Nessa
hora, Silvia me levou para a janela para eu ver algo além daquele quarto, e
conversou comigo
me lembrando que eu era capaz, que Deus me deu a bênção de ser mulher e que eu poderia
parir, e que a minha filha era uma bênção. Deus tinha planejado aquele dia maravilhoso
para ela chegar, e ela estava chegando!
Após isso a Silvia percebeu em um exame
de toque que realmente não estava tendo muita evolução. A Kelly pediu para eu
me concentrar e visualizar a Luiza nascendo. Passou um pano ao redor do meu
quadril e começou a fazer um movimento como se estivesse “peneirando” meu
quadril. Por incrível que pareça, senti a Luiza descendo e já senti uma vontade
enorme de fazer força. Sentei
na cama e comecei a fazer força. Minha mãe e a Kelly seguravam o bendito pano
de um lado e
eu puxava de outro, como um “cabo de guerra”, e assim eu fazia força. A vontade
de expulsar
vinha e voltava. Todos me respeitavam em minhas vontades – fiquei na posição
que me era
mais confortável e ninguém falava a hora certa de fazer força ou como respirar.
Eu sentia.
Eu fazia.
BEBÊ COROANDO E O TAL CÍRCULO DE FOGO
Depois
de uma força todos começaram se abraçar! Eu não tinha sentido nada e não
entendi porque
aquela euforia toda! A Silvia me disse: “Ela está ai... e ela não é loira!!”
hahaha. Meu marido
me disse: “Força amor, ela já está aqui!”. Luiza estava coroando!
Mais
algumas forças, senti o tal do Círculo de Fogo!! Depois disso, fiz a maior
força da minha vida, e
a Luiza nasceu! Nasceu, eu mesma peguei, aconcheguei nos meus braços, e ali,
naquele momento
sublime, conheci minha filha e me conheci como mulher. Olhamo-nos por muito tempo.
Só nós – eu, ela e o pai. Linda, cabeludinha, as unhas eram lindas! Coloquei-a
no peito e em
pouco tempo ela começou a sugar! Que saudade que eu estava de amamentar!
Quando
estava tudo lindo e maravilhoso senti outra contração... Ai meu Deus, o que é
isso?!
Não
tinha acabado?! Ploft... Saiu um negócio de dentro de mim – era a placenta. O
cordão umbilical
parou de pulsar e meu marido o cortou... e ali nós continuamos.
Não sei
quanto tempo ficamos ali. Sei que fomos respeitados em nosso tempo. No nosso tempo,
ela saiu do nosso colo e foi pesada pelo pai, ali do nosso lado mesmo. Não saiu
do quarto
para nada, não sofreu nenhuma intervenção. Em 12 horas tivemos alta do hospital
e fomos
para o aconchego do nosso lar.
Faço esse relato após 8 meses e 10 dias do
nascimento da Luiza, e mesmo passado tanto tempo, os momentos vividos ali ainda
me são vivos, marcantes. Escrever esse relato me ajuda a elaborar tudo o que eu
vivi. Depois daquele 04 de setembro não sou mais a mesma mulher. Meu marido não
é mais o mesmo homem. Nossa família não é mais a mesma família. Hoje nós nos
conhecemos mais, topamos mais os desafios e sabemos que SIM nós SOMOS CAPAZES, não
só de PARIR, mas também de lutar contra o que nos é imposto.
“A experiência do parto modifica a mulher porque
permite que ela chegue a lugares dentro
dela nunca antes acessados. Ela conseguirá visitar
coisas íntimas do seu ser – chame de alma,
mente, espírito, coração, enfim – este encontro
representa uma mudança, um avanço para a
vida inteira. Quando parimos, ampliamos nosso limite,
e isso por si só já é um avanço, uma
expansão da consciência. Parir é uma oportunidade
maravilhosa de experimentar uma
sensação única, de conhecer melhor o seu corpo, sentir
sua plena capacidade, e isso faz com
que a mulher ganhe confiança para a desafiadora
jornada que está iniciando de se tornar mãe”
(Ana
Cristina Duarte)
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