quinta-feira, 31 de julho de 2014

Parto da Carol - Nascimento da Luiza em 04/09/2013

Um parto diferente, uma mãe bem humorada, clima leve e alegre. Risos e emoções! Quanta poesia para receber Luiza!

Relato da Carol:

COMEÇANDO PELO MIGUEL

A história do nascimento da Luiza se inicia bem antes do dia do parto.
Sempre tive desejo por um parto natural, mas só fui entender como funciona todo o sistema e todas as dificuldades quando engravidei do meu primeiro filho em 2012. Fiz o pré-natal com um médico cesarista, percebi que ele não me respeitaria na hora do parto, mudei de médico com 36 semanas e lutei para proporcionar ao meu filho um nascimento que o respeitasse. Porém, com 41 semanas e 2 dias, sem nenhum sinal de TP, optei pela cesariana – uma cesariana eletiva, que ia contra tudo o que eu acreditava. Sim, me arrependi.


GRÁVIDA DA LUIZA

Quando Miguel tinha 9 meses, descobri que estava grávida da Luiza. As marcas do nascimento do Miguel ainda estavam recentes e doloridas, mas decidi que lutaria por respeitar essa outra criança mesmo com uma cesariana tão recente. Para isso tomei algumas providências: A primeira delas foi conversar com meu marido – só seguiria a diante se tivesse total apoio dele. Outra providência foi contratar uma doula – a Kelly foi fundamental para eu elaborar melhor o nascimento do Miguel e me preparar para a chegada da Luiza. Sem ela não teria conseguido. E por último, não divulgamos a idade gestacional correta – na minha primeira gravidez a pressão social foi muito grande, já que a gravidez ultrapassou as 40 semanas, e eu não queria lidar com isso novamente. A DPP era dia 04 de setembro, nós falávamos que nosso bebê nasceria no final de setembro, início de outubro! #MentirinhaDoBem

SERÁ QUE É TRABALHO DE PARTO ?

Quando estava com 39 semanas e 6 dias comecei a sentir umas dores bem fraquinhas, bem parecida com cólica de menstruação. Meu marido estava viajando a trabalho e eu não falei nada para ninguém pois tinha medo de ser alarme falso. Quando foi mais ou menos 15h falei com a minha médica:


Contei: Em um intervalo de 1 hora senti essas cólicas 3 vezes, mas com intervalos bem irregulares. Doutora Silvia me disse que era um sinal, mas eu poderia ficar dias sentindo essas dores. Relaxei e fiz tudo o que tinha que fazer – fui para o estágio, peguei meu filho e deixei na casa da minha mãe, fui no supermercado e mais tarde fui para casa de alguns colegas fazer alguns trabalhos da faculdade. Enquanto fazia os trabalhos senti uma dor mais forte. Olhei no relógio, era pontualmente 22h.
Continuei fazendo minhas atividades, senti outra dor: 22h10m. Mais tarde, outra dor, 22h20m... Agora os intervalos estavam regulares. Disse para meus amigos que iria embora porque já estava ficando tarde.

Como meu filho estava na casa da minha mãe, resolvi dormir lá. Cheguei lá, todos estavam dormindo. Jantei, fui tomar um banho e percebi que a água quente aliviava muito as dores das contrações. Fiquei horas e horas em baixo do chuveiro. Quando era mais ou menos 3h da manhã, decidi sair do chuveiro e tentar dormir um pouco... Nesse momento as contrações estavam de 5 em 5 minutos. Porém, deitada e sem o alívio da água quente, as dores ficaram muito mais fortes.

LIDANDO COM AS CONTRAÇÕES - MEDITAÇÃO POR POESIA

Até então tinha dúvidas se estava realmente em Trabalho de Parto ou não. Eu não queria falar para ninguém que estava sentindo contrações e depois ser um alarme falso. Tinha medo de pedir para meu marido voltar para o Uberlândia e depois não ser nada... Então fiquei um bom tempo pensando no que fazer! Deitada na cama e sem o alívio da água quente, as dores estavam ficando cada vez mais intensas e os intervalos iam diminuindo. Decidi abrir o jogo!
Falei com meu marido e combinamos que assim que o dia amanhecesse, ele pegaria o primeiro voo de volta para casa. Falei com a minha mãe que estava sentindo contrações e que ficaria em baixo do chuveiro, pois a água quente me aliviava. Voltei para debaixo do chuveiro e me entreguei às contrações. Sentia elas virem e elas irem embora. Cada vez que elas vinham, cantava uma música que fez com que eu escolhesse o nome da minha filha – “Luiza” de Tom Jobim. E a música me fazia entender as contrações!
“Rua
Espada Nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda lua
Como flutua
Vem navegando azul do firmamento
E no silencio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor”
Esse trecho era o tempo exato da contração! Quando eu cantava a palavra “amor” era o exato momento que a contração acabava. A palavra “trovador” era o momento em que a dor estava mais forte. Depois de “trovador” a dor começava a aliviar! Enquanto cantava pensava na minha filha que estava chegando e o quanto eu era “aprendiz de todo aquele amor!”
O dia amanheceu e quando foi 06h30 sai do chuveiro para arrumar meu filho e leva-lo a escola. Ele acordou tão alegre e serelepe! Parecia que sabia que a irmã dele estava chegando! Aquele sorriso dele me deu uma força tão grande e a certeza de que a Luiza nasceria naqueledia. Arrumei ele mas vi que não conseguiria dirigir com contrações com espaços tão curtos (claro!). Meu pai o levou para escola e minha mãe foi trabalhar.
Quando todos saíram, a bolsa estourou e o tampão mucoso saiu! Tudo de uma vez! Depois que a bolsa estourou, eu acho que o negócio começou de verdade! Nem sei se tinha intervalo entre as contrações! Mandei uma mensagem para a Silvia e para a Kelly: “Saiu um líquido, saiu sangue e tá doendo!”

HORA DE IR PARA O HOSPITAL

A Kelly foi para a casa dos meus pais me encontrar. Chegando lá ela achou que já estava na hora de irmos para o hospital. Silvia nos encontraria lá. As coisas de levar para a maternidade estavam na minha casa. Meu pai foi lá buscar tudo e a Kelly me levou para o hospital.
A chegada no hospital foi tranquila. A Silvia ajudou na documentação. Fomos para o quarto. Era mais ou menos 10 horas da manhã. Já no quarto, voltei para debaixo do chuveiro. Enquanto isso, meu pai e a Kelly arrumavam a piscina. Não sei quantos centímetros de dilatação eu estava, não sei de quanto em quanto tempo vinham as contrações, não sei quanto tempo elas duravam. Me entreguei a elas. Senti-as. Vi o quanto estava em boas mãos e como faz diferença uma equipe humanizada. Silvia me respeitava em todos os momentos e a Kelly cuidava de mim em tudo - desde a temperatura da água até colocar comida na minha boca! Mais ou menos meio dia minha mãe chegou e com ela eu tive mais um apoio.




MARIDO FINALMENTE CHEGA DE VIAGEM!!!

Mais ou menos 13h meu marido chegou. Até então, eu estava vivendo as contrações, mas não queria que a Luiza nascesse sem ele estar lá. Só depois que ele chegou que eu sinto que eu comecei a querer que ela viesse. É como se de uma forma ou outra eu estivesse “segurando”ela ainda... ou tentando retardar o nascimento dela.
Eu revezava entre chuveiro, piscina, e a única posição em que eu me senti confortável – ficando em quatro apoios. Porém, quando foi dando umas 15h eu já estava ficando cansada. Comecei a sentir que as coisas não estavam evoluindo. Comecei a desanimar. Estava cansada de uma contração atrás da outra. Não queria sentir a próxima contração. Queria deitar um pouquinho, dormir. Pensei em pedir a anestesia, mas até que o anestesista chegasse e aplicasse a anestesia e até ela começar a fazer efeito, eu já teria sentido muitas contrações! E se eu aguentasse a próxima, aguentaria muitas outras!

NÃO ESTAVA EVOLUINDO

Nessa hora conversei com a Kelly e com a Silvia e disse que estava desanimando, que estava sentindo que as coisas não estavam evoluindo. A Kelly sugeriu que eu caminhasse um pouco pelo hospital. Quando eu abri a porta do quarto, dei de cara com uns 5 funcionários do hospital (não sei a função deles, todos estavam vestidos de branco) todos na porta do quarto (como se estivessem escutando atrás da porta) com os olhos arregalados! Quando me deparei com essa cena, voltei pra trás correndo! Não queria de jeito nenhum ter que lidar com aqueles olhares. “Não vou sair desse quarto de jeito nenhum! Preciso de vocês perto de mim!”

MÉDICA HUMANIZADA É ASSIM

Nessa hora, Silvia me levou para a janela para eu ver algo além daquele quarto, e conversou comigo me lembrando que eu era capaz, que Deus me deu a bênção de ser mulher e que eu poderia parir, e que a minha filha era uma bênção. Deus tinha planejado aquele dia maravilhoso para ela chegar, e ela estava chegando! 


Após isso a Silvia percebeu em um exame de toque que realmente não estava tendo muita evolução. A Kelly pediu para eu me concentrar e visualizar a Luiza nascendo. Passou um pano ao redor do meu quadril e começou a fazer um movimento como se estivesse “peneirando” meu quadril. Por incrível que pareça, senti a Luiza descendo e já senti uma vontade enorme de fazer força. Sentei na cama e comecei a fazer força. Minha mãe e a Kelly seguravam o bendito pano de um lado e eu puxava de outro, como um “cabo de guerra”, e assim eu fazia força. A vontade de expulsar vinha e voltava. Todos me respeitavam em minhas vontades – fiquei na posição que me era mais confortável e ninguém falava a hora certa de fazer força ou como respirar. Eu sentia. Eu fazia.

BEBÊ COROANDO E O TAL CÍRCULO DE FOGO

Depois de uma força todos começaram se abraçar! Eu não tinha sentido nada e não entendi porque aquela euforia toda! A Silvia me disse: “Ela está ai... e ela não é loira!!” hahaha. Meu marido me disse: “Força amor, ela já está aqui!”. Luiza estava coroando! 

Mais algumas forças, senti o tal do Círculo de Fogo!! Depois disso, fiz a maior força da minha vida, e a Luiza nasceu! Nasceu, eu mesma peguei, aconcheguei nos meus braços, e ali, naquele momento sublime, conheci minha filha e me conheci como mulher. Olhamo-nos por muito tempo. Só nós – eu, ela e o pai. Linda, cabeludinha, as unhas eram lindas! Coloquei-a no peito e em pouco tempo ela começou a sugar! Que saudade que eu estava de amamentar! 




Quando estava tudo lindo e maravilhoso senti outra contração... Ai meu Deus, o que é isso?!
Não tinha acabado?! Ploft... Saiu um negócio de dentro de mim – era a placenta. O cordão umbilical parou de pulsar e meu marido o cortou... e ali nós continuamos.
Não sei quanto tempo ficamos ali. Sei que fomos respeitados em nosso tempo. No nosso tempo, ela saiu do nosso colo e foi pesada pelo pai, ali do nosso lado mesmo. Não saiu do quarto para nada, não sofreu nenhuma intervenção. Em 12 horas tivemos alta do hospital e fomos para o aconchego do nosso lar. 




Faço esse relato após 8 meses e 10 dias do nascimento da Luiza, e mesmo passado tanto tempo, os momentos vividos ali ainda me são vivos, marcantes. Escrever esse relato me ajuda a elaborar tudo o que eu vivi. Depois daquele 04 de setembro não sou mais a mesma mulher. Meu marido não é mais o mesmo homem. Nossa família não é mais a mesma família. Hoje nós nos conhecemos mais, topamos mais os desafios e sabemos que SIM nós SOMOS CAPAZES, não só de PARIR, mas também de lutar contra o que nos é imposto.

 “A experiência do parto modifica a mulher porque permite que ela chegue a lugares dentro
dela nunca antes acessados. Ela conseguirá visitar coisas íntimas do seu ser – chame de alma,
mente, espírito, coração, enfim – este encontro representa uma mudança, um avanço para a
vida inteira. Quando parimos, ampliamos nosso limite, e isso por si só já é um avanço, uma
expansão da consciência. Parir é uma oportunidade maravilhosa de experimentar uma
sensação única, de conhecer melhor o seu corpo, sentir sua plena capacidade, e isso faz com
que a mulher ganhe confiança para a desafiadora jornada que está iniciando de se tornar mãe”

(Ana Cristina Duarte)

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