Adriana pariu Isabella em um lindo parto natural em sua casa, sob o
apoio dedicado do marido Sérgio, na tarde do dia 17 de outubro de 2012,
quarta-feira. Me lembro de uma frase da Adriana que guardo no coração: Ela
dizia baixinho para a filha “não importa se dói minha filha, pode vir!”
RELATO DA ADRIANA
Como descrever em palavras um momento tão único e especial? Como
colocar no papel algo tão profundo, tão intenso? Vamos tentar...
UMA MÉDICA EM BUSCA DO PARTO NATURAL
Devo começar este relato dizendo que sou médica e me formei com a
ideia de que o parto normal da forma como era praticado nos hospitais
atualmente era algo abominável e que a cesárea era a melhor opção sempre... Minha
visão sobre o nascimento começou a mudar em primeiro lugar por causa do meu
marido Sergio, que é professor de yoga e trabalha diariamente com o controle da
respiração, do corpo e da mente, e também por causa de minha cunhada que mora
na França e lá teve 2 partos o humanizados em que eu fiquei simplesmente
encantada com a descrição do parto e de como tudo aconteceu.
Alguns meses antes de tentar engravidar, uma amiga me falou de
outra amiga que era obstetra e que tinha realizado o primeiro parto na água de
Uberlândia. Imediatamente quis saber quem era ela e onde ela atendia...
Marcamos uma consulta com a Dra Silvia no inicio do ano e simpatizamos muito com
ela desde o início. Não demorou muito e logo eu engravidei! Voltamos na Silvia
e ela já na primeira consulta nos deu 2 livros para ler. O primeiro que li foi “PARTO
COM AMOR”. Desde o início já queríamos um parto humanizado mas ao ler este
livro ficamos encantados com a ideia de ter um parto em casa. Com 16 semanas
acabávamos de saber o sexo de nossa bebê e
foi quando falamos para a Silvia que gostaríamos de ter o nosso parto em
casa. De início a reação dela foi de surpresa e de certa forma de negação, pois
ela preferia que o primeiro parto fosse hospitalar pois a mulher sente-se mais
confiante, mais segura. Ela também nos falou da dificuldade que tínhamos de
encontrar um pediatra disponível para a realização do parto domiciliar. Ainda
não tínhamos uma doula e em um dos encontros do Grupo Bom Parto eu e Sergio
conversamos e gostamos muito da Kelly e decidimos que ela seria a nossa
doula.
Marcamos nosso primeiro encontro com a Kelly para conversar sobre
o parto em torno de 20 semanas. Eu me lembro que daquele encontro eu sai
falando pro meu marido: Pode deixar Sergio, eu sei que eu posso fazer isso e eu
vou convencer a Silvia e a Kelly! Depois
disso foram vários outros encontros com a doula, participamos de quase todos os
encontros do Grupo BOM PARTO, prática de Yoga e meditação diária e cada vez
mais a certeza de que queríamos um parto em casa, em um ambiente aconchegante e
tranquilo para receber nossa Isabella.
Mas faltava o tal pediatra... após várias tentativas de contato
com um pediatra sem sucesso, já estávamos praticamente conformados de que não
conseguiríamos ter o parto em casa. Foi quando resolvemos ir conversar
pessoalmente com o Marcelo lá no Madrecor , já com 35 semanas, e ele foi super
receptivo à ideia topando nos assistir em domicílio desde que tivéssemos uma
ambulância para suporte na porta de casa. Saímos de lá confiantes de que daria
certo e que bastava agora esperar a hora da nossa pequena chegar.
STREPTOCOCO POSITIVO
Com 36 semanas colhemos o tal do exame do Streptococo vaginal. E
não é que deu positivo!!! Isso dificultava novamente pois seria necessário fazer
antibiótico EV na hora do parto e em casa isso não seria possível. Mas não
perdemos as esperanças, a Silvia nos falou de uma terapia alternativa que
poderia negativar o Streptococo intravaginal e nós tentamos. Repetimos a
cultura com 38 semanas e 2 dias. O resultado só sairia em 3 dias. No entanto no
dia seguinte ...
O DIA DO PARTO...
Tudo começou por volta das 3 e meia da
madrugada do dia 17 de outubro de 2012, com um sonho que tive com minha mãe,
onde ela me dizia que não podia me ajudar muito, mas que estaria do meu lado o
tempo todo... Nessa hora eu me levantei e fui até o banheiro onde constatei um
pequeno sangramento e logo após comecei a sentir umas cólicas leves, como se
fossem cólicas menstruais. Com um sorrisinho no rosto eu acordei meu marido e
contei pra ele o que tinha acontecido, mas ele não me deu muito credito e me
mandou dormir novamente. Ok, esperei até as 7 da manha pra ligar pra Kelly e
pra Dra Silvia e consegui dormir um pouquinho mais. A Silvia me examinou as 9
horas e eu estava com contrações leves, suportáveis. O colo estava fino mas sem
dilatação ainda. Tomamos café com nossa querida doula e fomos aproveitar o dia,
indo até o clube dar uma caminhada e distrair a cabeça. Estava um dia muito
bonito com um sol maravilhoso. Na hora do almoço, quase não consegui me
alimentar, pois tive 3 contrações mais fortes e náuseas. Tinhamos programado de
ir ao shopping a tarde pra continuar nosso plano de distração mas as dores
começaram a ficar mais intensas. Chamei a Kelly novamente e quando ela chegou
em casa já me encontrou mais concentrada, já na bola de Pilates, respirando
profundamente e com contrações a cada 3 minutos. Andamos pelo quintal entre
nossos cachorros, e a cada contração eu parava, respirava lentamente prestando
muita atenção no que estava acontecendo com o meu corpo.
As vezes a Kelly fazia
uma massagem na minha lombar, as vezes o Sergio, sempre me lembrando de não
tensionar os ombros na hora da dor. Isso
devia ser em torno das 3 da tarde, um pouco mais. Chegou um momento em que eu
resolvi me deitar na cama e logo veio outra contração forte, e logo outra... quando
eu senti a bolsa estourando! Foi uma felicidade enorme ver que o trabalho de
parto estava evoluindo! Resolvi então tomar uma ducha! A Dra Silvia chegou e me
encontrou no chuveiro, agachada, com uma forte contração. Nessa hora eu estava
com uma dor intensa e um pouco enjoada. Ela quis me examinar e demorou um
pouquinho no toque. Um silêncio e logo veio a exclamação: “dilatação total!!!”.
E não vimos mais a Dra Silvia por um bom tempo... (depois fiquei sabendo que
ela sumiu pra chamar o pediatra e a ambulância pra ficar de prontidão em nossa
casa). Eu resolvi confirmar e perguntei: “Ela disse dilatação total???? Mas eu
nem pensei em desistir ainda!!!”. Todos riram e fomos para a piscina inflável,
que pela eficiência do meu marido, já estava cheia há um tempo.... Logo
começaram as contrações do período expulsivo, e eu comecei a ter vontade de
fazer força.
Lá na piscina ficamos, durante um tempo, que eu não sei
especificar quanto foi. No banheiro, na água morna, num silencio compenetrado e
somente com luz ambiente ouvindo uma musica suave vindo do quarto. Eu de
joelhos apoiada na borda da piscina e de mãos dadas com a Kelly, e o meu marido
nas minhas costas, fazendo uma pressão no meu quadril a cada contração. Fiquei
totalmente concentrada naquele momento, observando cada contração, uma após a
outra, observando o que meu corpo estava precisando e sentindo minha filha descer,
e a cada contração eu vocalizava muito, um AHHHH aberto, visualizando uma
dilatação completa e a descida. Em um momento a Kelly disse que falei: “ Vem
minha filha! Não importa se está doendo, pode vir! “. E não importava mesmo. Em
dado momento, a Silvia sugeriu mudarmos de posição para ajudar na descida da
Isabella. Entao o Sergio sugeriu que eu ficasse de pé na água mesmo e me
apoiasse nele. Ao fazer isso logo veio uma contração mais forte e eu fiz muita
força. Quando voltei pra piscina, eu estava agora de frente pro meu marido e a
Kelly me apoiava nas costas. Foi quando tudo começou a queimar, eu estava
sentindo o circulo de fogo, minha filha estava chegando...O Sergio começou a
ver a cabecinha dela e começou a fazer carinho nela...E me falava: “tá dando
tudo certo, continue assim , ela tá vindo, tá chegando! “ Fiz mais algumas
forças e pronto! Lá estava ela, primeiro a cabeça, que girou, depois o corpinho
e minha filha estava sendo recebida pelos braços do pai!!! Maravilhoso e
indescritível! O Sergio a colocou em meus braços e de repente estávamos nós
três juntos pela primeira vez. Eu havia conseguido! Eu sabia que conseguiria e
agora ela estava ali! Amparada em meus braços, chorando muito pouquinho ficamos
sozinhos um tempo curtindo aquele momento... muito emocionados! O Papai cortou
o cordão assim que ele parou de pulsar e depois ele acompanhou a Isabella pra
ser examinada em nossa cama pelo pediatra.
CELEBRANDO
Um tempo depois tive mais algumas contrações e a placenta foi
expulsa em nossa cama. Minutos depois eu estava deitada, ao lado do meu marido,
com a Isabella entre nós, e todos estavam rindo e comemorando! Comemos todos
uma bela torta de banana feita especialmente para a ocasião! Se eu tive medo?
Kelly me perguntou. Não! Eu sabia exatamente o que eu queria... e que iria
doer, mas e daí? Nos preparamos muito
pra este momento e todos os sentimentos eram voltados pra trazer a minha filha
querida nos meus braços. Eu trabalhei
durante estes 9 meses acreditando e dominando a minha mente para vencer o medo, vencer a dor ! E foi muito
gratificante! Obrigada Kelly e Silvia mais uma vez por acreditarem também na
minha capacidade, na minha força e por me ajudarem nesta trajetória. E Sergio,
não tenho palavras pra descrever a força que você me deu neste projeto até o ultimo
instante! Acreditem mulheres, vocês podem!!!!
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