Depois de 4 anos tentando engravidar e quase 42 semanas de gestação chega a Serena, como o próprio nome diz. Nasceu em casa, tranquila e (é) Serena!
Relato da Ana Cândida:
Vivemos uma jornada de espera para chegar até esse momento da gravidez e do nascimento de nossa filha. Foram quatro anos tentando engravidar e, nesse tempo, vivemos anseios, angústias, buscas, dúvidas, esperança, mergulhos dentro e fora... e diversos aprendizados. E tudo dentro do tempo... Fizemos e repetimos diversos exames: tudo normal. Decidimos deixar a vida frenética de São Paulo e tiramos um período sabático que seria de um ano, mas prolongamos por mais seis meses. Nesse tempo fizemos um retiro e viajamos por alguns cantos do mundo, peregrinando por lugares sagrados, o que nos possibilitou oportunidades de ampliar os horizontes ao conhecer novas culturas, diversas crenças e maneiras de viver... águas passaram e aprendemos tantas coisas... De volta do retiro decidimos morar na minha terra natal, Uberlândia, depois de 16 anos que eu já havia me mudado da cidade... voltar às origens foi restaurador e misterioso também... os desígnios de Deus e do destino são insondáveis... com 2 meses morando de volta em Uberlândia, engravidei.
Vivemos uma jornada de espera para chegar até esse momento da gravidez e do nascimento de nossa filha. Foram quatro anos tentando engravidar e, nesse tempo, vivemos anseios, angústias, buscas, dúvidas, esperança, mergulhos dentro e fora... e diversos aprendizados. E tudo dentro do tempo... Fizemos e repetimos diversos exames: tudo normal. Decidimos deixar a vida frenética de São Paulo e tiramos um período sabático que seria de um ano, mas prolongamos por mais seis meses. Nesse tempo fizemos um retiro e viajamos por alguns cantos do mundo, peregrinando por lugares sagrados, o que nos possibilitou oportunidades de ampliar os horizontes ao conhecer novas culturas, diversas crenças e maneiras de viver... águas passaram e aprendemos tantas coisas... De volta do retiro decidimos morar na minha terra natal, Uberlândia, depois de 16 anos que eu já havia me mudado da cidade... voltar às origens foi restaurador e misterioso também... os desígnios de Deus e do destino são insondáveis... com 2 meses morando de volta em Uberlândia, engravidei.
Esse
nome da nossa filha, Serena, tem bem a ver com o que aprendemos nessa
trajetória... Por ser Serena não teve pressa de nascer, de chegar o tempo de
sua concepção... além disso, precisei fazer dois exames de gravidez para
saber que eu estava realmente grávida... apesar de ter sentido alguns sintomas,
o primeiro exame de gravidez deu negativo... imagine só a frustração... mas eu
estava grávida sim e no segundo exame veio o positivo... e o parto seguiu nessa
mesma frequência...esperamos 41 semanas e 4 dias para o dia dela nascer.
A bolsa rompeu na madrugada do domingo, dia 21 de julho, às 3h00 da
madrugada. Mas foi somente no dia 22 de julho, à noite, que comecei com algumas
contrações ritmadas de leve, que deram uma pausa na madrugada e foi no dia
seguinte, ao meio dia, que o trabalho se fez ativo mesmo...Foram 10 horas de
trabalho de parto ativo e ela nasceu às 22h06 do dia 23 de Julho de 2013,
primeiro dia do signo de Leão :) uma filhote de Leão... rsrsrsrs...
Alguns
sinais foram claros de uma presença superior nos acompanhando e guiando os
acontecimentos. E tudo foi acontecendo com uma harmonia e nos surpreendendo com
o inesperado tão bem vindo.
Nosso
amigo querido, Vinícius, nos visitou um dia antes da bolsa romper e trouxe
algumas palavras que foram como chaves abrindo portas... Na noite anterior ao nascimento,
a Ana Paula veio de Campinas e nos auxiliou no trabalho de parto com sua
presença intuitiva. Teve um momento que ela compreendeu o que se passava no meu
coração e, através de uma música (o mantra do guru budista Padmasambhava) ela
foi instrumento para me auxiliar a limpar alguns sentimentos e compreender
melhor outros, liberando o amor. Nessa noite do dia 22, fizemos umas comidinhas
delícia, meditamos ao som de mantras e músicas lindas... dancei tanto e foi
ótimo para auxiliar a Serena a se encaixar. Depois da dança, deu pra ver como
minha barriga havia baixado. O clima e ambientação da casa estava tão
agradável, a luz de velas, uma vibração no ar de amor e harmonia...algo estava
no ar... devia ter alguns anjinhos por ali porque estava uma good vibe mesmo!
O
dia 23 amanheceu com uma bruma branca pairando sobre toda a cidade. Uberlândia
que é uma cidade com inverno ensolarado de céu azul apresentou esse visual
inédito nesse dia.
O
Gui, tesouro da minha vida, companheiro de tantas jornadas e empreitadas,
estava com um estado de presença ao meu lado indescritível. Nunca me esquecerei
do seu olhar amoroso, de querer me ver bem e a Serena também.
Procuro
palavras para descrever a presença da minha irmã Ana Isa... presença firme e
serena, presença simples, uma indiazinha mesmo! Ela nos surpreendeu com
sua eficiência, atenta aos detalhes, disposta a servir com o coração. Eu, que
como irmã mais velha estava mais acostumada a fazer as coisas por ela, tive que
me trabalhar internamente para receber dela toda aquela disponibilidade,
carinho, zelo, mimos... amor, puro amor!
Teve
um momento no chuveiro, quando começaram as contrações fortes que meu
pensamento vacilou por alguns instantes e pedi para ela me dizer algumas
palavras que foram me guiando positivamente. E nesse momento pedi para minha
querida amiga de infância e doula, Kelly, presença fina, dedicada e essencial,
para dizer algumas palavras também e ficaram as duas me nutrindo com palavras
de luz e amor. E então, comecei a cantar as vogais fazendo gestos com as
mãos para cima e para baixo, como que me abençoando: A, E, I, O,
UUUU... (não sei da onde tirei isso)...E isso me auxiliou na concentração
para lidar com as contrações.
Depois,
pedi para colocar a música Alegria e, em meio as contrações, dancei no
chuveiro... compreendi melhor como existe uma relação entre dor, raiva e
amor... raiva de sentir dor, uma dor que faz nascer o amor, o amor que nasce da
dor... a astrologia ensina que o planeta Marte é o regente do signo de Áries;
esse planeta e signo são os responsáveis pela energia da raiva que é a mesma
energia da assertividade, que nos faz vencer a dor por amor... Acessei a
relação desses sentimentos em um nível de profundeza que esse poema do Kalil
Gibran explana melhor do que eu poderia: http://www.youtube.com/watch?v=6aiZcJsZie0 ... Por uma coincidência
que não é coincidência, a música Alegria (que toca no vídeo da Serena e que a
querida amiga-irmã Paloma me ofereceu para o dia do TP) tem um trecho que fala
"como uma raiva de amar" ...e ali, naquele momento, me fez
compreender melhor o que eu estava sentindo: raiva de sentir dor ao mesmo tempo
que sentia que a dor era por amor...
No
chuveiro senti uns puxos, algo empurrando... a Luanda, médica que estava
acompanhando o parto e que vestiu a camisa do parto humanizado com amor e
entrega.. ela examinou com o toque e pela cara dela vi que ainda iria
demorar... então, me preparei para o TP ir longe... ufa! Depois que a Serena
nasceu, a Luanda me explicou que ela estava empurrando com tudo, mas eu ainda
não tinha dilatação suficiente, por isso senti o puxo...
Fui para a piscina, fiquei um tempo... o pensamento ainda vacilava...a Kelly me lembrou que eu havia perguntado: será que eu vou dar conta? E depois que ela me lembrou disso, lembrei que durante as contrações eu me recordei do que eu havia lido e recebido de informação a respeito do momento de covardia que as mulheres atravessam durante o trabalho de parto...então, eu pensei: se existe mesmo esse momento da covardia, vou externalizar o que está fazendo meu pensamento vacilar e então fiz essa pergunta para ela... pode ser que eu tenha sido um tanto racional nesse momento...rsrsrsrs
Fui para a piscina, fiquei um tempo... o pensamento ainda vacilava...a Kelly me lembrou que eu havia perguntado: será que eu vou dar conta? E depois que ela me lembrou disso, lembrei que durante as contrações eu me recordei do que eu havia lido e recebido de informação a respeito do momento de covardia que as mulheres atravessam durante o trabalho de parto...então, eu pensei: se existe mesmo esse momento da covardia, vou externalizar o que está fazendo meu pensamento vacilar e então fiz essa pergunta para ela... pode ser que eu tenha sido um tanto racional nesse momento...rsrsrsrs
Saí
da piscina, fiquei um tempo deitada na cama e o Gui aguentou uns apertos e
beliscões que eu dava nele a cada contração... foi quando eu pensei que
precisava deixar as contrações circularem no meu corpo sem eu me contrair, mas
eu precisava ficar deitada porque minhas pernas doíam. Então, voltei para a
piscina e lá fiquei deitada procurando conhecer as contrações e buscando
encontrar um jeito de recebê-las e administrá-las melhor... foi quando a Kelly
veio e disse ao meu ouvido que a contração é a força da natureza... Nossa, como
foi forte essa fala naquele momento, fez todo sentido... e ela ainda disse:
deixe a força da natureza circular no seu corpo... foi uma sintonia fina que
tivemos uma com a outra, pois quando eu estava deitada na cama eu havia pensado
que eu precisava encontrar um jeito de deixar a contração circular no meu corpo
sem eu me contrair... e a Kelly ainda disse, e quando a contração vier diga: recebo,
entrego, confio e agradeço... essa fala dela foi uma chave que guiou a
sequência do meu TP.. a partir de então, cada vez que vinha uma contração eu me
ligava de que era a força da natureza; então, eu cantei esse mantra durante 7
horas que fiquei na piscina: recebo, entrego, confio e agradeço... quando a
contração vinha, eu a recebia, entregava a força da natureza pra Serena que
precisava dela para nascer, confiava e agradecia... esse foi outro ponto alto
do TP porque senti como a gratidão é uma força... cada vez que eu agradecia a
uma contração, me vinha uma força para receber a próxima contração... e assim
fiquei durante esse tempo, dentro da piscina, de frente para a janela, vendo a
bruma e as cores do dia passar e da noite chegar... onde e quando encontrei
algum nível de conforto para atravessar as ondas do trabalho de parto... claro
que, nessas 7 horas de concentração nesse mantra e numa respiração que a Kelly
me passou, tiveram momentos que eu me desconcentrei ou que algum barulho me
desconcentrava e então eu sentia a dor e me contraia... (até pedi pro Gui
colocar óleo numa porta que estava fazendo nheco nheco quando
abria e fechava)... mas logo eu pegava o fio da meada novamente e seguia na
concentração...
Depois
desse tempo na piscina, a Luanda me examinou de novo e disse que era o momento
de sair da água... eu não queria sair, pois encontrei um lugar de conforto ali
com a respiração e meditação, mas ela insistiu e a Kelly também, dizendo que
por mais difícil que fosse eu precisava sair pois a Serena estava já querendo
nascer... e eu, preparada para ir até o dia seguinte quase não acreditei, mas
obedeci... no que saímos da banheira, minhas pernas estavam bem doloridas e o
osso púbico também...afff... fui andando bem devagar para sala e elas me
orientaram a fazer alguns agachamentos de cócoras, e assim fiz, o Gui me dando
apoio... depois fomos pro meu quarto, no banco de parto tive algumas
contrações...
a Luanda disse que estava vendo o cabelinho, ufa, está nascendo!
Mas logo depois ela disse que não era o cabelinho, mas sim o colo do útero, a
Serena estava vindo com tudo e empurrando... quando isso acontece o nome é
rebordo anterior, quando falta um centímetro para dilatação e a cabeça do bebê
já está bem encaixada... u la la, então me preparei novamente pro parto ir
longe...A Luanda com o exame de toque afastou o rebordo... ufa, vi estrelas
nessa hora, mas achei que o procedimento fosse ser mais demorado. Então, elas
me orientaram a ir para cama ficar apoiada na bola... lá fui eu... mais algumas
contrações e a Luanda disse para eu voltar para o banco... mas eu senti que era
para ficar ali mesmo, estava confortável... e então, mais algumas contrações e
a Serena nasceu! Primeiro a cabecinha saiu e com ela um chorinho, que linda!!!
E depois, na próxima contração veio o corpinho. Como eu estava de costas, elas
passaram a Serena por baixo das minhas pernas por causa do cordão umbilical e a
colocaram na cama a minha frente... Nesse momento segui a orientação da
Leontina, uma amiga-fada querida, que disse para transmitir o amor pelo olhar
para o bebê logo que ele nasce... depois ela me explicou que esse ensinamento é
transmitido pela Escola de Dinâmicas
Energéticas do Psiquismo (DEP), descrita no livro " A Biologia do
Amor" do Dr. Arthur Janov, que diz: olhar nos olhos e
transmitir o amor ao bebê através do olhar logo que ele nasce é bom pelo
estímulo que registra no tronco cerebral da criança comunicando que ela é
amada...
Achei
que esse ensino fez todo o sentido e logo que colocaram a Serena ali na cama na
minha frente, ela imediamente me olhou nos olhos e, então, fiquei olhando nos
olhos dela e transmitindo o meu amor através do olhar, o Gui também o fez...
fiz isso enquanto eu me recuperava um pouco do cansaço e retomava o fôlego...
até passou pela minha cabeça: esperei tanto tempo por esse momento, não preciso
ter pressa para pegá-la, fiquei ali curtindo aquela troca de olhares amorosos...
mas logo já peguei ela no colo e assim começamos a nos conhecer, reconhecer,
entrando em contato com novas dimensões do amor. Ela, tão linda e com aquele
cheiro de parto indescritível de maravilhoso, de cheiroso...quero poder sempre
me lembrar daquele cheiro no cabelinho dela... o melhor cheiro que já
senti.
Com
toda essa vivência, outras duas percepções se abriram para mim: 1) o
parto foi sim uma experiência intensa... mas para além dos mitos que fazem ao
redor do tema, foi algo simples... vivi e pronto... passou... sem engrandecer o
assunto... 2) outra percepção é a de que o parto é de cada mulher e acontece
como deve ser... e mesmo que tenha pessoas compartilhando do momento, o parto
só pode ser de cada mulher, de cada casal, de cada família que vai nascer, se
ampliar, renascer... e isso acontece e flui para além das expectativas e
projeções das outras pessoas.
E
assim, agora estamos a nos amar, vivendo as adaptações no pós-parto, mas isso
já é um outro capítulo. Gratidão à vida pela oportunidade de sermos guardiões
desse pequeno ser aqui na terra. Que possamos ter força, saúde, firmeza e
serenidade para zelarmos por ela e orientarmos no que for possível. Gratidão à
egrégora da Presença Superior que guiou tudo. Gratidão a toda equipe que muito
além de nos auxiliar, nos amou. Gratidão a toda família e amigos que estiveram
conosco em torcida e orações. Vamos que vamos! Bem vinda Serena amada!
Quero
deixar registrado aqui nesse relato o trecho de um livro que recebi da minha
querida comadre Marina, logo depois que a Serena nasceu e que completa a
tradução do que eu senti quando eu estava no chuveiro dançando ao som da música
Alegria:
Trecho de um livro do escritor
polonês Janusz Korczac.
Você diz: "Meu filho."
Quando, senão apenas durante a gravidez, você terá o direito de dizê-lo? A
batida de um coração tão pequeno como o caroço de um pêssego faz eco no seu
pulso. É a sua respiração que lhe fornece o oxigênio. Um sangue comum a você
circula em ambos, e nenhuma destas gotas vermelhas sabe ainda se ela será sua
ou dele, ou se, será derramada, será preciso que morra em sacrifício ao
mistério da concepção e do nascimento. Este pedaço de pão que você está
mastigando é material para a construção das pernas sobre as quais ele correrá,
da pele que o recobrirá, dos olhos com os quais ele olhará o mundo, do cérebro
onde o pensamento brilhará, das mãos que estenderá para você e do sorriso com o
qual ele chamará "mamãe".
Juntos
vocês irão viver um momento decisivo; juntos sofrerão uma mesma dor. O
despertador tocará: pronto.
E vocês dirão ao mesmo tempo - ele: "Eu quero viver minha vida"; e
você "Viva a sua vida".
Com poderosas contrações das suas entranhas você o expulsará sem se preocupar
com o sofrimento dele, e ele abrirá o seu próprio caminho com força e decisão,
também sem se preocupar com o sofrimento de sua mãe.
Ato brutal.
Na
realidade, não. Você e ele executarão mil movimentos imperceptíveis, maravilhas
de habilidade, de sutileza, a fim de que, tomando cada um a sua parte de vida,
não tomem além do que é devido a cada um, segundo uma lei universal e eterna.
- Meu filho.
Não, nem nos meses de gravidez, nem nas horas de nascimento a criança é
sua..."
Profundo e sensível relato. Me enche os olhos d'água perceber através das palavras a profundidade que se é possível viver tais momentos. Parabéns Ana Cândida, Guilherme, Serena e a doula querida Kelly pela vivência! Beijos!
ResponderExcluirBelíssimo relato da Ana Cândida, descreve muito bem a intensidade do momento. Parabéns pelo blog meu amor, e continue fazendo esse belo trabalho, auxiliando mães e casais nesse momento tão especial!
ResponderExcluirQue relato de parto simplesmente profundo e sincero...que meche com a alma! Parabéns pelo maneira que conseguiu nos transmitir essa dor/amor! Nos faz repensar e querer mudar muitas crenças! Parabéns a toda equipe, fazendo do trabalho um ato de amor e doação. Muita luz e Serena para vocês!!!
ResponderExcluir