Um dos primeiros partos humanizados, assistidos pela dra. Silvia Caires.
"A dra. Silvia mesmo não tendo comigo nenhum laço antigo de amizade, ela se mostrou amiga acima do seu profissionalismo. Ela acreditou em mim e na Luiza. Apoiou-nos e nos deixou extremamente seguras." (Denyele)
Relato da Denyele:
Dia 11-07-2011, por causa de um aumento na pressão arterial, eu fui afastada dos meus afazeres. Os exames não comprovaram pré eclampsia, era apenas um quadro hipertensivo. Vários exames foram feitos nesse período. A Luiza estava com o peso abaixo do normal esperado pra quantidade de semanas que ela tinha. Fizemos controle do peso dela toda semana e os exames relatavam que ela estava bem e estava ganhando peso apesar de estar abaixo da média.
Com esse quadro no último mês de gravidez qualquer
obstetra sugeriria uma cesariana. Mas a Silvia não. Ela soube avaliar as
particularidades. Percebeu que minha família tinha pessoas de baixa estatura e
avaliou a individualidade da Luiza e a minha. Pela primeira vez, um médico
confiou em nós e nos deu a oportunidade de escolher e esperar um parto natural.
Dia 02-08-2011, dia de muita ansiedade. Eu
estava esperando uma hora que não sabia qual e um dia que eu não sabia qual.
Estava em casa de repouso controlando a pressão arterial, não podia trabalhar e
por isso tinha a sensação que o dia não passava. Eu rezei, chorei e pedi a Deus
que me desse sabedoria e calma, porque não podemos controlar as forças
naturais, só Ele pode. E Ele fez tudo funcionando perfeitamente, tudo acontece
no seu devido tempo.
No mesmo dia, 19hs. Eu sozinha em casa. Senti
uma leve dor na barriga e resolvi agachar pra fazer um exercício já induzindo a
minha vontade que a hora estivesse chegando. Ao fazer o movimento, um líquido
escorreu pelas pernas. Segurei. Não adiantou. Era ela, a bolsa que tinha
rompido. A hora tinha chegado. Uma mistura de decepção com entusiasmo. Não foi
do jeito que visualizei e tinha medo que meus planos não dessem certo, ao mesmo
tempo acabara a ansiedade, agora eu ia ver minha menina e pegá-la nos braços.
Liguei pro meu marido, pra minha mãe, pra
Dra. Silvia e pra minha cunhada (que iria filmar o parto). O meu marido me
levou ao hospital e ficamos esperando a chegada da médica. Nesse período várias
pessoas foram ao hospital nos encontrar na ansiedade de participarem conosco
desse momento. Eu ainda não estava sentindo nenhuma dor, mas o líquido
continuava jorrando entre as pernas.
A Dra. Silvia examinou às 21hs, estava tudo
bem, mas com apenas 1,5cm de dilatação. Ela alertou: vai demorar. Disse que
poderíamos esperar as contrações, mas que provavelmente o nascimento seria no
outro dia pela manhã. Eu topei, com um pouco de medo de não dar certo, mas na
mistura com a fé.
Avisamos o pessoal para irem para casa e
descansarem. Ficou comigo apenas minha mãe. O marido foi em casa comer e tomar
um banho, pois tinha ido direto do serviço. Combinamos que ele voltaria até às
00hs e minha mãe iria pra casa.
As 22:30hs iniciaram as primeiras contrações
já no quarto do hospital. Tomei um suco de açaí com maracujá pra dar energia, fiz
um pouco de exercício na bola suíça. O Leandro chegou, mas minha mãe não quis
sair dali. Ela pressentia que eu precisaria da presença dela.
Dra. Silvia voltou ao quarto à 1h da manhã do
dia 03-08, eu já estava sentindo fortes contrações, estava inquieta. Ela
examinou. Estava tudo bem com a Luiza, mas eu estava com apenas 2cm de
dilatação. Eu disse pra Silvia que ela poderia fazer o que achasse melhor.
Silvia abaixou a cabeça, quase dizendo que não teria mais jeito. Todos no
quarto olharam para baixo desanimados. Silvia respirou profundo, acreditou mais
uma vez na força natural das coisas e me deu mais um voto de confiança. Olhou
bem nos meus olhos e disse: “vamos tentar mais uma hora. Relaxa. Senta no
banquinho de parto debaixo do chuveiro quente que vai dar certo”.
Assim eu fiz, e tolerei mais uma hora de
muita dor. Rezei novamente pedindo a Deus que a vontade Dele fosse feita
naquele momento. Às 2:20hs mais ou menos, Silvia voltou ao quarto e ficou surpresa ao perceber que a dilatação
tinha evoluído pra 5cm. Ela disse que agora poderíamos continuar esperando
porque estava dando certo. Ela disse que Luiza deveria nascer lá pelas 5hs da
madrugada.
Eu pensei em desistir várias vezes durante as
contrações, mas a sabedoria divina é tão maravilhosa, que nos dá a oportunidade
de repensar durante o intervalo sem dor. Os intervalos sem dor eram pequenos,
mas eu pensava que poderia suportar mais um pouco.
Após 50 minutos do último exame, eu estava
debaixo do chuveiro novamente, quando senti uma dor tão grande e quase
insuportável. Pedi meu marido pra chamar a Silvia. Eu precisava saber se tinha
evoluído. Eu disse que não agüentava mais. Leandro ligou pra ela, e por
coincidência ela já estava no corredor a caminho do meu quarto.
Eu saí do chuveiro quase carregada, gemendo e
pedindo ajuda. A dor não queria passar como nas outras contrações. Estava
doendo até a alma. Dra. Silvia examinou e deu um grito de alegria e entusiasmo
“você está com dilatação total querida, vai nascer”. Um milagre tinha acabado
de acontecer. São como esses que acontecem todos os dias em nossas vidas e
nossa correria nos impedem de perceber, mas naquele momento eu havia percebido.
Minha mãe pegou na minha mão e a partir
daquele momento não soltou mais. Senti-me segura e amparada. O meu marido pegou
a máquina fotográfica e começou a registrar os momentos. Ele não sabia se
ficava do meu lado ou se tirava fotos. Silvia pegou as luvas e jaleco e gritou
enfermeiras e o pediatra no corredor. Ainda deu tempo pra Silvia sugerir que eu
sentasse no banco de parto.
Minha mãe vestiu em mim o vestido, preocupada
com o detalhe: eu aparecer pelada nas fotos e filmagem. Eu sentei no banco e
este estava em cima da cama. Eu estava sentindo que a qualquer força que eu
fizesse, Luiza iria cair.
Respirei profundamente, enchi de força e
energia e soltei um belo grito (que deve ter acordado o hospital inteiro). E
isso bastou. Luiza escorregou de dentro de mim e os olhos de todos se encheram
de alegria. Não deu tempo do pediatra e enfermeira com aparatos para o parto chegarem.
Eu fiquei ali, pasma. Parecia que não era
verdade. Eu não consegui me emocionar, eu olhava pra baixo (e ela chorando em
cima da cama) e não conseguia imaginar que ela estava dentro de mim. O pai cortou o cordão. E Eu fiquei
observando. Ela continuava chorando, quando Silvia colocou-a em meus braços e
ela acalmou imediatamente, já sugando a mama em busca do seu alimento e seu
acalento. Naquele momento eu percebi que eu era mãe, e eu entendi o que é um
amor de mãe, e entendi o porquê minha mãe não conseguiu me abandonar naquele
momento, passando por cima de suas limitações, seus medos e dificuldades.
Ela parecia uma boneca. Com 44 cm e 1950kg.
Seu rosto perfeito. A boca desenhada e os olhos arregalados.
Eu sou imensamente grata ao Criador que nos
dá a possibilidade de viver momentos como esse: de superação, emoção,
felicidade e amor. Tudo ao mesmo tempo e misturado. Só quem já viveu a
experiência poderá entender o que eu digo. Sou grata á minha mãe que esteve
comigo desde o início da gravidez, me apoiando nas decisões e me deixando
protegida. Sou grata ao meu marido, que acreditou em mim desde o início e
fortaleceu a minha fé. Sou grata a Dra. Silvia que mesmo não tendo comigo
nenhum laço antigo de amizade, ela se mostrou amiga acima do seu profissionalismo.
Ela acreditou em mim e na Luiza. Apoiou-nos e nos deixou extremamente seguras.
Agradeço também a Luiza. Nós conversamos
durante toda gestação. E ela soube esperar o momento certo. Foi forte e superou
a primeira grande dificuldade na luta pela vida. Agora eu sei que juntas
teremos força pra lutar por todas as outras que vierem.
OBS: Luiza não teve dificuldade para sugar. O
colostro desceu logo após o parto e em 2 dias já desceu o leite materno. Ela é
uma criança saudável e esperta. Perdeu peso apenas no primeiro dia no hospital
(3% apenas). Saiu do hospital com 1890kg e em 4 dias ganhou 200gr, o dobro do
normal.
Eu não tive nenhum problema pós parto. Entrei
e sai do hospital sem tomar nenhum medicamento e sem puncionar veias. Hoje
completam 10 dias e posso dizer que até agora não tive fissuras nas mamas e
elas também não “pedraram”. Não senti dores e não tomei medicamentos. Estou
super disposta e meu corpo já voltou praticamente ao normal. Luiza se alimenta
apenas de leite materno e através da sua própria sucção.
Denyele Carvalho Zanata
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