quarta-feira, 30 de julho de 2014

Parto da Adriana - Nascimento da Maria Nina em 05/10/2012

Maria Nina nasceu no hospital cercada do amor da mãe, do pai e da avó. Um relato cheio de humor e sabedoria!

Relato da Adriana:

Nascemos!
Relato do meu primeiro parto Natural – Nossa doce Maria Nina!!!!
Escrito em 17-10-2012.

Dizem que meu Trabalho de Parto durou 11horas! Prefiro dizer que foram 9 meses...tempo em que me dediquei a conhecer e desejar cada fase de um trabalho de parto! Mas vou “começar do começo”!

GRAVIDEZ

Minha gravidez foi uma doce surpresa e desde então muita alegria e entusiasmo permearam nossos dias. Ter filhos de parto normal sempre foi uma convicção na minha vida. Mas nossa primeira consulta do pré natal transcendeu nossos planos...eram apenas 9 semanas de gestação e nossa obstetra logo me questionou sobre o parto. Disse que era importante que desde já eu pensasse, me preparasse e desejasse o grande dia. Assim também se posicionou em relação à amamentação. Ali nascia uma relação de extrema confiança. Quando lhe falei da minha preferência por parto normal ela me perguntou se eu já tinha ouvido falar sobre Partos Humanizados. Gosto da maneira sensata e respeitosa como ela me definiu o termo naquele momento “ Não há nada mais humano do que uma mulher poder escolher que parto gostaria de ter e se sentir bem quanto a isso”. Confesso que fiquei meio desconfiada sobre o assunto. Afinal minha mãe foi extremamente feliz e realizada em 4 partos ‘normais’ com direito a fórceps, episio, blablá ...e por isso sempre brincava: “fui criada pra parto normal”. Até então, era com isso que eu sonhava. Bem, ao final da nossa consulta ela me convidou para conhecer o Grupo Bom Parto e me passou o nome (instigante) de um pequeno vídeo para assistir: “O Renascimento do Parto”.
Logo que cheguei em casa, procurei na internet e assisti (várias vezes). Pronto!!! Foi meu ponto de partida para chegar até aqui. (Re)nasceu em mim tudo o que precisava entender sobre minha decisão a respeito do nosso parto. A partir desse vídeo, comecei a ler muito, pesquisar, me envolver profundamente. E é claro, encontrei desde o início o apoio do Rui - super companheiro!
 Fui aos poucos aprendendo a entender do que meu corpo realmente era capaz e foi então que descobri que o parto pelo qual eu sempre desejei se chamava Parto Natural Humanizado! Envolvi-me em varias leituras de livros, blogs e relatos que me familiarizaram a cada dia com a maneira como desejaríamos que a Maria Nina pudesse chegar. No início, procurava resposta para entender porque tantas mulheres eram submetidas a cesarianas sobre o pretexto de ‘não ter dado’ parto normal. Então pensei: ”por que ‘não daria’? O que poderia realmente me impedir de realizar o parto vaginal?” Busquei em cada leitura um conhecimento suficiente para não desejar o tradicional parto normal, muito menos uma cirurgia desnecessária para trazer minha pequena para a vida fora da barriga! O suficiente para acreditar na minha capacidade de parir minha filha para experimentarmos na prática a diferença entre ‘nascer’ e ‘ser nascida’! Queria me esforçar para que tudo que estivesse ao meu alcance fosse feito para realizar meu parto natural. Ganhei o apoio do Rui, busquei compreender melhor o meu corpo e o parto em si e fui sendo a todo tempo muito bem amparada pela Dra Ellen. Era a receita perfeita! Agora só faltava sentir, na hora certa, tudo o que um trabalho de parto poderia me proporcionar. Foi então que comecei a desejar imensamente “entrar em TP”! O contato com nossa Doula, Kelly e com o Grupo Bom Parto foi um pouco tardio (por volta da 30ª semana de gestação), mas não menos importante. Apaixonante participar de cada encontro! Depois de vivenciar uma gravidez muito abençoada, planejamos, sonhamos e imaginamos o inimaginável. Eu ansiava por algo que eu nem sabia o que seria realmente. Mas meu instinto desejou e acreditou desde o início que era exatamente assim que a Maria Nina chegaria: no seu tempo, do seu jeito, de forma naturalmente perfeita, divina. E depois de alguns “alarmes falsos” a danadinha escolheu justo o dia do aniversário do papai: 05 de outubro!
Por volta do 7º mês já me deliciava com as contrações de treinamento (Braxton Hicks) e sonhava com as dolorosas contrações de fato. A propósito: é muito bom sonhar, imaginar o parto. Tirar tempo para mentalizar desejos e sensações positivas! Dica valiosa da Doula querida.
Com 37 semanas eu já estava de licença maternidade, (quase) tudo pronto e tentava me isolar do resto do mundo que quase me desestabilizou com tamanha ansiedade! “Marca logo essa cesárea menina! O filho da fulana demorou demais pra nascer e acabou com uma paralisia cerebral”. “Até hoje não nasceu?? Mas o primeiro filho adianta, viu?” affff...Durante uma consulta com a Dra Ellen ela presenciou e se impressionou com o vigor com que minha barriga se contraia e resolveu fazer uma exame de toque e para nossa surpresa....colo fininho e 2cm de dilatação!!!! Ficamos muito empolgados!! Eu sabia que não se tratava de trabalho de parto, pois eram contrações indolores e irregulares, mas fiquei extremamente feliz porque algo me dizia que tudo daria certo e que seria logo! Na semana seguinte cismei que estava perdendo líquido. Então, outro toque (importante relatar: os toques da Dra Ellen sempre muito delicados!! hehe) e...3cm de dilatação! E após um ultrassom vimos que o liquido estava intacto e que ainda não era chegada a hora. A esta altura, meu irmão (médico) havia me dado um prazo, caso contrário ele mesmo faria minha cesárea!!!! Muita pressão em um momento tão delicado não é legal. Mas recebi muito apoio da Kelly, da minha mãezinha que já estava comigo e do Rui!!! Fundamental todo esse carinho!

PRÓDOMOS

Na 39º semana tive uma noite inteira de pródromos. (madrugada do dia 03/10). Muitas contrações, porém pouco ritmadas. Ah, e o famoso tampão ainda não tinha dado o ar da graça! (ou eu não havia percebido). Bem, amanheceu o dia e as contrações tinham dado uma trégua. Estava muuuuuito calor e nosso ventilador havia estragado, então resolvemos almoçar no shopping para curtir um ar condicionado e comprar um ventilador novo. Andamos bastante. Aliás, nos últimos dias me preocupei em me movimentar pra ir entrando em sintonia com os movimentos do meu corpo que trariam nossa princesa. Caminhadas, namorar o maridão, subir e descer escadas (moramos no 3º andar, sem elevador). Queria me movimentar o máximo, ir entrando no ritmo dos movimentos que meu corpo já treinava há algumas semanas. Movimentos que iam trazendo nossa menina pra gente! “Tudo que move é sagrado e remove as montanhas com todo cuidado...”  
 Era quinta feira e dia de encontro do Grupo Bom Parto. E lá estávamos nós com aquele barrigão que se contraia a todo instante. Era só parar e respirar e em segundos tudo voltava a normalidade! Minha mãe foi com a gente e foi maravilhoso, porque eu havia decidido que ela estaria comigo durante o parto e apesar de termos conversado, tudo era muito novo pra ela – o que me deixava um pouco insegura quanto a sua presença no grande dia. Mas foi fantástico! 2 relatos maravilhosos, encorajadores e emocionantes! Contei pra Kelly que as contrações continuavam bem fortes e com uma certa dorzinha no baixo ventre. E ela, bem tranqüila, apenas sorriu demonstrando a mesma disponibilidade de sempre. E se despediu da gente dizendo que “encontros tão ‘ocitocinados’ como aquele sempre acabavam em parto”!! hehe...Fato! 

DIA DO PARTO

Saímos do encontro e fomos comer algo num barzinho com um casal de amigos que tambem freqüentavam o Grupo. Chegamos em casa por volta de 23hs e fomos dormir. Pouco tempo depois acordei com dores bem fortes. A cada contração eu tinha que me levantar e me segurar na janela para me sentir mais aliviada. Comecei a anotar o intervalo das contrações e percebi que desta vez estava de fato em trabalho de parto. Elas viam a cada 8 minutos e depois 7 e logo 6! Decidi não acordar meu marido e minha mãe pois pensei em dar mais alguns minutos de descanso para os dois que estariam do meu lado pelas próximas horas. Decidi ir para debaixo do chuveiro. E como a maioria sempre diz: realmente é muito bom. (água morninha, só eu e Maria Nina, nos movimentando e agachando e cantando baixinho). A dor amenizava mas comecei a ter a sensação de que o intervalo das contrações estavam menores. E decidi acordar o Rui. Enquanto ele mandava mensagens pra Kelly e Dra Ellen eu continuava no chuveiro. Fiquei ali por mais 40min. Já eram 2:30  e resolvi acordar minha mãe e organizar as coisas para irmos para o Madrecor em plena madrugada daquele que seria o dia mais intenso da minha vida!. Chegando lá, hospital vazio, recepcionista com cara de espanto, demora na papelada da internação, contrações a cada 2 min, exame de toque feito por um médico amigo meu (vergonha!!),  plantonista que me recebeu enquanto a Dra Ellen chegava e ....6cm de dilatação!!! Muito bom chegar ao hospital na madrugada por estar vazio, hehe. Enquanto o Rui arrumava os papeis da internação eu tinha toda a liberdade pra andar, agachar, fazer minhas vocalizações sem que todo mundo me olhasse como se eu fosse uma aberração. Os enfermeiros pareciam não se conformar: “mas porque voce não deita na maca”, “vamos na cadeira de rodas”, “voce vai fazer parto normal??? Corajosa, hein”. Muito engraçado a cara de espanto das pessoas!!!!
A Kelly logo chegou, mãezinha estava comigo e eu driblava um enfermeiro que insistia em me levar de cadeira de rodas até uma maca no Pronto Atendimento. A cada contração eu vocalizava e me abaixava segurando nas janelas. Fomos para o quarto e enquanto a Kelly e o Rui enchiam a banheira a Dra Ellen chegou. Neste momento a dor estava inacreditavelmente mais branda do que quando estava sozinha no início do TP. Impressionante a diferença que fez o zelo, o companheirismo, o apoio da minha ‘equipe’. Eu estava tranqüila, feliz e nos intervalos de cada contração era como se nada estivesse acontecendo. Quase 4 da madrugada quando a Kelly me sugeriu que eu sentasse na bola de pilates. E foi aí que descobri o meu lugar no mundo!!!! Muito bom! Eu ganhava muito carinho, da minha mãe, do Rui, da obstetra e da doula, toda empenhada em me fazer sentir o mais confortável possível. Massagens, compressas quentes, água morna, bola de pilates e muito, muito amor e cuidado!


Nesta hora as contrações já vinham a cada 2 min e eu aproveitava para curtir aquele momento. Durante horas, a gente cantava baixinho, ria e chorava juntos (eu e o Rui e minha mãezinha fofa, que sabia exatamente a hora de chegar, pegar na minha mão, fazer um carinho...). No hospital, tentei o chuveiro, mas não estava bom como em minha casa. Espaço, muito pequeno e comecei a sentir frio. Então passei a maior parte do tempo, ali sentada na bola, de frente para a parede, segurando na barra. O Rui fazendo massagens, a doula compressas quentes e minha mãe carinho no rosto!!! As compressas quentes eram muito boas na hora da dor, mas nada melhor do que o calor do rosto do Rui no meu rosto...o beijo, as palavras de incentivo...Fala sério! Eu ficaria lá por horas! Aliás, as primeiras nove horas passaram voando. Eu olhava pela janela e via o dia amanhecendo e sentia uma emoção de presenciar o sol nascer junto com a Maria Nina... Duas estrelas que chegavam aos pouquinhos. Ao mesmo tempo suaves, ao mesmo tempo intensas, cheias de brilho, de luz e de vida. A obstetra ficava do nosso lado, de prontidão. Escutava os batimentos da pequena, sempre tudo bem! Eu já estava com 9cm de dilatação!!! Nem acreditava, porque a maioria das mulheres chega neste ponto com uma dor muuuuito forte. Juro que cheguei a pensar: “meu parto ta acabando e cadê aquele momento intenso, com dores que nos levam a quase desistir?” as enfermeiras se perguntavam do lado de fora se algo dava errado porque eu não gritava. Hehe...
Foi então que tudo aconteceu! Como já estava com dilatação total o pessoal já se preparava para o nascimento, até a pediatra tinha sido chamada e eu fui para a banheira. Minha bolsa rompeu na água e eu pensei: é agora!. A partir daí realmente vivi a “intensidade” que desejara momentos atrás. Foram aproximadamente 2 horas de uma dor bem forte que vinha praticamente sem intervalos. Não conseguia encontrar uma posição confortável e eu já me sentia bem cansada. Comecei a perder a concentração de antes e começava a pensar que algo não estava indo bem porque não sabia que seria possível um expulsivo tão demorado. Tive medo naquele momento. Medo que me fez sair de mim, perder o foco nas contrações, abrir os olhos e buscar o olhar da obstetra imaginando que precisaria de fórceps...aliás imaginei várias destas coisas que se imagina quando se chega à partolandia, meio desnorteada. E é exatamente nesta hora que senti o quanto foi importante poder ter ao meu lado as pessoas certas, escolhidas por mim. As palavras e olhares encorajadores me traziam de volta.

UM SANDUICHINHO DE AMOR

Eu e o Rui chamávamos por nossa filha e íamos juntos tentando vencer aquele momento que para mim já quase fugia ao meu controle. A Kelly sugeriu que eu saísse da banheira pra me movimentar. Sentei no banquinho de parto e o Rui atrás fazendo as massagens praticamente sem parar. Mãe , doula, obstetra do lado. Muitas palavras de incentivo e o mesmo calor e amor. Uma atmosfera de intensa presença de Deus!... A dor das contrações estava bem forte e coexistia com a dor da expulsão mas minha maior batalha era com meu psicológico. Não importava o quanto eu estava amparada, naquele momento só eu poderia fazer por nós duas o que deveria ser feito e de repente eu voltei a me ‘empoderar’ e numa forte contração fiz uma força bem intensa. E então em segundos eu já estava instintivamente segurando a minha filha, que saia de mim, para mim, num novo ciclo que se iniciava. Eu a abraçava forte e o Rui atrás nos abraçando. Um “sanduichinho de amor”! Ficamos ali por muito tempo nos embalando, nos olhando, reconhecendo, sussurrando doçurinhas ao ouvido dela. Depois que o cordão parou de pulsar o Rui o cortou. Logo que ela nasceu, chorando, me cheirando, e se mexendo bastante, a pediatra disse que estava tudo bem e disse para que eu desse o peito pra ela que ficou ali, cheirando, passando a boquinha, até pegar pra valer. O ‘aparato’ pediátrico ia sendo retirado do quarto. Fomos muito respeitadas também pela pediatra que sabia que o mais importante para a Maria Nina naquele momento ela já tinha. Nada poderia ser mais urgente do que aquela cena que ninguém se atrevia interromper. Não sei se saberia descrever a explosão de sentimentos deste momento....a gente ria, chorava, rezava...todo o cansaço e dor já não existiam! O quarto estava cheio nessa hora. Meu irmão e cunhada que estavam do lado de fora não resistiram e entraram. Mas a gente não enxergava mais ninguém além da nossa família! Nossa linda família! O Rui cortara o elo que ligava mãe e filha para refazer o elo que a partir dali seria entre nós três! Maria Nina chegou muito saudável às 39 semanas e 3 dias de gestação, com 49cm e 3.280Kg às 10:35 numa linda manhã de sexta feira - meu dia preferido! Eram 05- 10-2012! Maior presente para o dia do aniversario do Rui.

Não sei bem quanto tempo ficamos ali juntinhos. O Rui pegou nossa filha enquanto eu paria a placenta. Preferi me deitar na maca e voltei a sentir algumas contrações até ela chegar, inteirinha, perfeita. Me senti constrangida pela presença de mais pessoas no quarto neste momento. A Dra Ellen me examinava. Tive uma hemorragia que logo cessou sem medicamentos e uma laceração que não foi suturada, respeitando um desejo meu. Me sentia muito bem e tive pressa em me levantar para tomar banho e inevitavelmente minha pressão caiu. Voltei à maca e ali fiquei até me sentir forte e descansada. Tomei um soro para suprir tantas horas sem me alimentar e hidratar (me esqueci completamente disso!!! Alma saciada, mas estômago vazio!). Após o almoço já me sentia muito bem, eufórica, faminta (muita fome mesmo) e o cansaço já não existia – ou era naturalmente mascarado por aquela ebulição de sentimentos e sensações que me preenchiam.
Jamais me esquecerei do cheiro, do clima, dos toques....do dia em que nasci/renasci para uma vida que a partir de agora vale muito mais a pena!
Hoje me sinto mais forte, mulher poderosa, intrinsecamente feminina, fêmea, MÃE! Somos perfeitas o bastante para sermos donas do nosso parto, assim como fomos na concepção, na gestação e o seremos na criação dos nossos filhos. Fui a protagonista do milagre que Deus reservou exatamente para mim, naquele momento!
Para as que já fazem parte da “maternagem”, para as que ainda farão, nunca se esqueçam que basta o fato de sermos ‘MULHER’ para fazer de nós um ser especial. A maternidade é o momento mais mágico que um ser humano pode viver, nos aproxima do divino e nos faz sermos capazes de TUDO!
Nossa Maria Nina nasceu! Aliás, eu também (re)nasci! Juntos, pai, mãe e filha vivenciamos um lindo processo de passagem, de amor e sobretudo de VIDA.

 ** Um parto natural tem exatamente TUDO a ver com esta delícia que chamamos M-A-T-E-R-N-I-D-A-D-E. Doação, entrega, amor... Dói?? Claro! Qual o tamanho dessa dor? Infinitamente menor que nosso desejo de querer sempre o melhor para os nossos filhos. Na medida certa, assim como ‘padecer no paraíso’!!! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário